A polêmica da Plataforma Lattes

Nessa semana foi divulgado o aparecimento de currículos falsos na plataforma Lattes do CNPq. Essa plataforma é um banco de currículos com mais de 1 milhão de registros e é utilizado pelo CNPq e pela maioria das agências de fomento à pesquisa como referência de currículos de pesquisadores.

A brincadeira de mau gosto foi feita com a inclusão um currículo com o nome de Galvão Bueno, o locutor esportivo da Rede Grlobo, no qual aparecia, por exemplo, informações sobre a titulação: "graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (2001), mestrado em Engenharia eletrônica - MIT - Massachusetts Institute of Technology (2004) e doutorado em Física - California Institute of Technology (2006). Atualmente é narrador da Rede Globo de Televisão. Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase em Futebol."

A informação apareceu primeiramente no Boletim da Sociedade Brasileira de Física, por meio de um comunicado do Prof. Paulo Murilo Castro de Oliveira, professor da Universidade Federal Fluminense. Depois a notícia foi veiculada no jornal Folha de S.Paulo. Nessa mesma semana o jornal O Estado de S.Paulo informou que o Currículo Lattes da Ministra da Casa Civil Dilma Roussef, continha informações falsas, como ela fosse doutoranda, mas de fato o seu doutorado foi interrompido. No momento as informações no CV Lattes já estão corrigidas.

No dia (11/07/2009) na Folha de S.Paulo, os artigos dos professores Rogério Meneghini e Roberto Romano (disponível para assinantes) fizeram um interessante contraponto sobre essa discussão: A Plataforma Lattes é confiável?

Do meu ponto de vista sempre houveram fraudes meio científico e ainda vão continuar acontecendo. Discuti em um antigo texto nesse blog (A ciência também é humana), sobre as fraudes que os pesquisadores Woo-Suk Hwang (que fraudou resultados sobre a clonagem humana) e Jan Hendrick Schön (que havia publicado 16 artigos entre 1999 e 2001 que mostravam resultados sobre transistores feitos a partir de uma única molécula e supercondutividade em esferas de carbono). Nesses dois casos citados, os resultados foram publicados nas mais prestigiosas revistas científicas do mundo como Nature, Science e Physical Review Letters (a mais importante na área da Física). O que faz com que essas fraudes apareçam é que uma descoberta científica falsa, em um determinado momento, será desmascarada, pois não conseguirá ser reproduziada.

Mas no caso dos currículos falsos na Plataforma Lattes?

Novamente, quem cabe zelar por isso também devem ser os próprios pesquisadores. Quando fazemos a análise de um projeto de pesquisa e consultamos o CV Lattes é preciso olhara mais que os números. É fácil apenas fazer a contagem de número de papers ou de alunos orientados. É importante ir além. Ver se a história ali contada faz sentido e é coerente.

Nesse sentido, concordo com o comentário do Prof. Meneghini: "Fraudes ocorrem no mundo acadêmico. Um trabalho científico pode ter um texto contundente, preciso e relevante, mas é difícil avaliar as fraudes de dados. Se esse for o caso, é muito provável que os resultados de outros pesquisadores não reproduzam os achados e conclusões do fraudador." No caso das informações do Lattes, além do esforço do CNPq em certificar algumas informções, como artigos e números de citações, é necessário também a vigilância e ética dos assessores ao avaliarem os currículos.


No site do CNPq há uma nota respondendo alguns dos questionamentos que vem surgindo a respeito da plataforma Lattes, que leva esse nome em homenagem a um dos maiores cientistas brasileiros, César Lattes.

Comentários

  1. Caro Adilson
    No caso das fraudes observadas nos currículos Lattes da ministra Dilma Roussef e do ministro Celso Amorim, fica a pergunta: se a responsabilidade não é deles, é de quem? Quem teve acesso aos respectivos CPFs e senhas para inserir os dados nos seus CVs Lattes? Além disso, quando da finalização do preenchimento ou atualização dos dados no CV Lattes, sempre aparece a mensagem:
    "Declaração
    O solicitante declara formalmente que está de acordo com o Termo de Adesão e Compromisso da Plataforma Lattes.
    ( Declaração feita em observância aos artigos 297-299 do Código Penal Brasileiro)."
    Muito bem, se você for verificar as penas impostas pelos artigos 297-299 do código penas brasileiro, verás que não são brincadeira.
    Mas ministro é ministro.
    Agora, imagine que fosse eu ou você que tivéssemos fraudados nossos dados. Teríamos algum privilégio?
    Eu conheço PESSOALMENTE caso de fraude em CV Lattes. Mas onde, na página do CNPq, existe um link para realizar uma denúncia anônima? Eu não indicar meu nome de jeito nenhum, pois pode ter sido apenas um "engano". E depois o autor do CV Lattes vai ficar sabendo que fui eu quem denunciou? É ruim!

    abraços,

    Roberto Berlinck

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  2. Caro Roberto,
    Sem dúvida concordo com você no caso dos ministros. É claro que no Brasil há ainda a cultura dos poderosos sempre se saírem livres as responsabilidades.
    Mas acho ainda que é melhor com o Lattes do que sem ele. Imagine se ainda mandassemos CV no papel para o CNPq? Hoje quando alguém ganha um projeto podemos ver como é o CV dele.
    Um abraço e obrigado pelo comentário
    Adilson

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  3. Anônimo7:44 AM

    O CNPq criou um email para denuncia anonima, escreva para a plataforma e pergunte qual o contato.

    Porem, acompanhando casos de colegas que denunciaram curriculos escandalosamente falsarios, fiquei com a impressao de que nada eh feito com relacao as denuncias... mais uma vez um orgao brasileiro tapando sol com peneira...

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  4. Sem dúvida você tem razão. É muito comum as coisas ficarem por isso mesmo. Por isso é importante verificarmos sempre a coerência das informações quando estamos julgando os projetos de pesquisas e decidindo se vamos ou não recomendar a aprovação.

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