A verdadeira crise nas universidades

Faz algum tempo que não volto ao assunto de práticas não científicas. Esse tema é sempre polêmico e muitas vezes as pessoas acabam levando para o lado pessoal. Resolvi discutir isso um pouco na minha coluna mensal no Ciência Hoje on-line (reproduzida abaixo), enfatizando a Astrologia, por dois motivos:

O primeiro é que na UFSCar, minha universidade, considerada uma das melhores do Brasil, principalmente por causa da pesquisa de alto nível que é realizada lá, está havendo a promoção de uma série de palestras sobre "criacionismo", promovida pelo curso de Pós-Graduação em Fisioterapia (considerado o melhor do Brasil). Embora a idéia seja a contraposição entre o criacionismo e a teoria da evolução, haverá 3 palestras seguidas sobre o tema criacionismo primeiramente. A diversidade de idéias é sempre interessante, entretanto, no meu ponto de vista, não devemos misturar alhos com bugalhos, ou seja, contrapormos ciência com crenças, ficando uma discussão sem ser produtivas, pois os criacionistas não aceitam os fatos incontestáveis no qual a evolução se apóia e também não conseguem mostrar consistência nas suas idéias baseadas mais em sentimentos do que em fatos.

O outro ponto é por saber que a UnB (Universidade de Brasília) há um núcleo no qual promove cursos sobre astrologia entre outras coisas. Um curso sobre o tema está terminando de acontecer lá. Veja por exemplo esse endereço sobre a visão de astrologia, inclusive divulgada pela assessoria de imprensa da UnB.

A liberdade de pensamento e expressão na Universidade deve sempre ser preservada. Entretanto, essa liberdade não pode ser confundida com falta de responsabilidade, pois a universidade pública brasileira representa muito para a nossa sociedade. Institucionalmente divulgar pseudociências e promover esse tipo de atividades é algo sério e talvez represente a verdadeira crise nas universidades.

Comentários

  1. Considero a divulgação da pseudociencia extremamente perigosa. A Universidade deve lutar para que a ciencia de verdade se imponha sobre o pensamento pseudo-cientifico.

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  2. Caro Diego,
    Obrigado pelo comentário
    Exatamente por isso que eu considero perigoso esse tipo de comportamento. Como estamos envolvido com a divulgação científica, é preciso alertar as pessoas.

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  3. Anônimo7:02 AM

    Muito interessante, sua chamada para discutir esse assunto, Adilson! Concordo com vc em relação à importância desse assunto! Só um pequeno detalhe que não sei se vc notou: qdo clicamos no seu perfil, o software publica seu signo (inclusive no horóscopo chinês...). Não sei se vc isso é automatico do software, mas achei importante alertá-lo... Grande abraço!

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  4. Caro(a) anônimo(a)
    Você tem razão quanto ao negócio do signo. Parece que é automático, pois não inclui no perfil (até fui checar isso).
    Daí vemos o quanto as pessoas se preocupam com a astrologia.
    Um abraço

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  5. Anônimo3:33 PM

    Deve ser porque a profissão de astrólogo será regulamentada. E se há regulamentação, deverão existir universidades que ensinem o corpo teórico da mesma.

    Vai entender...

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  6. Caro Norberto,
    Concordo com você. E veja só, a de físico, ainda não é regulamentada..
    Obrigado pelo comentário
    Um abraço
    Adilson

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  7. Como é possível, em nome da liberdade de expressão, divulgar essa aldrabice da astrologia?

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  8. Caro Vieira,
    Eu também não acredito como isso pode acontecer.
    Para quem não conhece, a UnB quando foi criada era para ser uma universidade modelo. Tomei um choque quando cheguei lá para um congresso e topei com a faixa esticada no meio do campus anunciando o curso e um congresso de astrologia.
    Por isso não perco oportunidade para protestas sobre isso, como o meu texto publicado no Ciência Hoje on line.
    Um abraço
    Adilson

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  9. Eu concordo que a astrologia e o criacionismo já perdeu há muito tempo razão de estar nas univesidades, mas que mecanismo deve ser utilizado pra coibir esse tipo de coisa? Numa instituição baseada no "publish or perish", esse tipo de "pesquisa" não sobreviveria basicamente pq esse tipo de matéria nunca seria publicada numa revista com peer review, mas como é que se controla isso numa universidade pública? Não dá pra censurar, pois existe a liberdade de cátedra...

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  10. Caro Shridhar,
    Existe uma clara diferença entre a liberdade de expressão e a propagação de idéias enganosas. Nas universidades brasileiras todas as atividades são aprovadas por órgãos colegiados, que tem representantes de toda a comunidade (professores, técnicos e alunos). Os professores tem a maior representação. Tanto as palestras na UFSCar como o curso na UnB com certeza foram atividades aprovadas por algum destes órgãos.
    Dessa forma, se fosse de interesse, essas atividades não existiriam.
    Obrigado pelo comentário
    Adilson

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  11. Anônimo8:56 PM

    Ola,

    Faço mestrado em administração da USP e tem um trabalho sobre pajelança (dos rituais indígenas) como ferramenta de administração?!
    Precisa dizer mais alguma coisa?!

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  12. Caro Carlos,
    Como você mesmo disse, sem comentários.
    Um abraço e obrigado por ter deixado uma mensagem
    Adilson

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  13. Caro Adilson, na UFV há poucos anos houve também um ciclo de palestras sobre o Criacionismo, promovido por uma associação de estudantes protestantes. Infelizmente, é bem possível que até em nossas universidades esse tipo de evento receba mais atenção que alguns eventos científicos sérios. Creio que há um preocupante problema nos pós-graduandos das áreas científicas de algumas universidades: não têm a mínima idéia do valor da Ciência e de quanto ela é ameaçada pelas pseudociências e neoobscurantismos afins. Acredito que nós blogueiros divulgadores de ciência temos um papel importante a assumir no combate a esta onda de neomedievalismo começando a se alastrar, sendo mais ativos e um pouco menos cordatos, a exemplo do PZ Myers, do Carl Zimmer e outros. Gostei de sua atitude.

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  14. Caro Itálo,
    Parece que as palestras aqui na UFSCar não foram para frente, ou pelo menos pararam de divulgar.
    Eu sempre me sinto na obrigação de tentar esclarecer as pessoas das diferenças entre ciências e pseudociências. Muitas pessoas misturam a Física com muitos desses exotismos.
    Espero logo estar promovendo um curso do tipo "Física para poetas" para ajudar a mostrar a ciência de uma forma mais atraente e dismistificando-a um pouco.
    Obrigado pelo comentário.
    Adilson

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  15. Anônimo12:53 PM

    Ah se nossa única preocupação fosse a astrologia! O que você nos diz Adilson sobre o ensino de Homeopatia e Farmácia Homeopática em universidades do calibre da USP?
    Eu particularmente acho lamentável. Como docente me esforço para "alimentar" o espírito crítico dos alunos. Logo depois, um colega vem dizer aos mesmos acadêmicos que energia vital é coisa séria!!

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  16. Cara Juliana,
    De fato não podemos, no meio universitário, misturar as nossas crenças com o que chamamos de saber demonstrado cientificamente. Não podemos afirmar que tais coisas funcionam e são demonstradas cientificamente. Esse cuidado sempre devemos ter no que afirmamos, principalmente para os nossos alunos, pois somos formadores de opinião.
    Um abraço e obrigado pelo comentário
    Adilson

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  17. Adilson:

    Fiz meu mestrado na UFSCar. saudade daí. Trabalho na Uni, Estadual de Maringá. Aqui tb foi feita uma palestra sobre criacionismo. Trabalho Hist. da biologia e meus alunos - têm que ler Darwin - e, não querem, pois são religiosos!!!!

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  18. Cara Marta,
    Que época estive na UFSCar?
    Imagino a dificuldade dos alunos de biologia não quererem ler Darwin. De fato precisamos continuar a cruzada para vencermos as idéias da pseudociência.
    Um abraço
    Adilson

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