A Ciência Também é Humana


Publicada no AOL-Educação em 23/01/2006




A Ciência talvez seja um dos empreendimentos humanos de maior sucesso em toda a história. Os benefícios que ela trouxe para humanidade, felizmente, superam os malefícios que a sua utilização desvirtuada e sem ética pode causar.

Por exemplo, quando foi estudada a estrutura do núcleo atômico descobriu-se uma nova fonte de energia, a energia nuclear, que transformada em energia elétrica pode beneficiar milhões de pessoas. Esse tipo de conhecimento também pode ser utilizado na construção de armas nucleares capazes de destruir cidades inteiras em apenas alguns minutos. Em outra área, os avanços na compreensão dos sistemas biológicos permitiram encontrar a cura de muitas doenças. Esse mesmo conhecimento, se utilizado de maneira errada, pode produzir armas biológicas tão letais quanto as nucleares.

Os cientistas, muitas vezes, não têm controle sobre as suas descobertas. Alguns não imaginam as conseqüências e até que ponto pode ser levada a utilização de suas idéias. Outros, mesmo sabendo dos perigos e malefícios que podem advir de seus estudos, procuram desenvolvê-los a qualquer custo. A glória e o prestígio a serem alcançados são os maiores motivadores para o trabalho do cientista.

Na Ciência, quem publicar o resultado primeiro levará a fama e será sempre lembrado. Em busca disto, alguns pesquisadores (ainda bem que poucos!) chegam a inventar resultados e a fraudar suas descobertas. Como o cientista é um ser humano como outro qualquer (veja a coluna “Quem é o cientista”), não está imune às vaidades e ambições humanas.
Em um caso recentemente noticiado, em dezembro de 2005, foi constatado que os resultados divulgados pelo pesquisador Woo-Suk Hwang, diretor do Centro Nacional de Células-Tronco na Universidade Nacional de Seul, Coréia, eram fraudados. Em 2004 e 2005 ele publicou artigos na revista Science, um dos periódicos científicos de maior prestígio no mundo, relatando pela primeira vez na história a clonagem de embriões humanos com objetivo de extrair destes células-tronco.

As células-tronco são células primordiais indiferenciadas que têm a característica de se transformar em qualquer um dos tecidos que compõem o nosso corpo. Por essa característica particular, essas células têm grande aplicação na medicina e a pesquisa nessa área é, atualmente, uma das mais competitivas.

A fraude foi descoberta a partir da denúncia da utilização de métodos não éticos para se conseguir os óvulos utilizados na produção dos embriões, pois foram usados óvulos de uma das assistentes do cientista. Investigações feitas por um comitê instituído pela Universidade Nacional de Seul mostraram que os resultados eram falsos e fabricados intencionalmente. Os pesquisadores, na verdade, não obtiveram clones de embriões humanos.

Há 4 anos o pesquisador alemão Jan Hendrick Schön do Laboratório Bell, um dos mais importantes dos Estados Unidos, foi demitido por ter fraudado os dados publicados em 16 de 24 artigos entre 1999 e 2001. Entre eles estavam resultados sobre transistores feitos a partir de uma única molécula e supercondutividade em esferas de Carbono. Tais resultados gerariam uma revolução na nanotecnologia e na eletrônica e poderiam levar o pesquisador a ganhar o Prêmio Nobel. Alguns apontavam-no como candidato ao prêmio.

Embora os resultados apresentados fossem surpreendentes, outros pesquisadores da área não conseguiam reproduzir a maioria deles. A partir de uma investigação feita, concluiu-se que os dados foram forjados e todos esses artigos foram excluídos das revistas nas quais foram publicados, entre elas a Nature, a Science e o Physical Review Letters (a mais importante da área de Física).

As revistas científicas utilizam o critério chamado “revisão por pares” para garantir a qualidade do trabalho. O artigo é remetido para dois ou mais árbitros, pesquisadores da área, para a análise. É mantido sigilo sobre a identidade dos árbitros. Após a análise do trabalho são feitos questionamentos sobre os resultados e interpretações. Em alguns casos, novos resultados são solicitados para comprovar e demonstrar o que foi proposto. Embora esse processo seja rigoroso, os exemplos citados mostram que o mesmo não é infalível.

O procedimento científico permite que fraudes, como as citadas, não perdurem. Quando outros pesquisadores tentam reproduzir os resultados, a fraude é descoberta. Ao passo que o conhecimento sólido será verificado em qualquer lugar e época. A sua utilização, para o bem ou para o mal, dependerá somente do Homem.

Comentários

  1. Adilson, gostei da sua apresentação sobre validação do conhecimento científico.
    No entanto há conhecimento científico que não é validado. Esse conhecimento espera naquilo que poderemos chamar o "limbo da ciência",que é o conhecimento estritamente teórico. Um exemplo clássico é a teoria da relatividade. Mas muitas outras teorias estão na forja.
    Não estou a discordar de si, estou apenas a ser pro-activo.
    Por outro lado, a ciência também tem modas e alterações de paradigmas morais, vejamos por exemplo o caso da energia nuclear:
    -Durante as últimas décadas a energia nuclear foi perdendo força, pela opinião pública negativa que se fazia dela. Actualmente a opinião pública começa a vê-la com outros olhos, dado que não há emissões de dióxido de carbono e assim explorações podem contibuir para a diminuição das emissões com efeitos de estufa.
    As visões do nuclear estão a alterar-se. É a moda!!

    Um abraço:

    Félix

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  2. Caro Felix,
    Obrigado por seu comentário, mas gostaria de discordar um pouco de você. A teoria da Relatividade é uma teoria que já passou por muitas provas e é considerada uma das mais precisas que existe. Por exemplo, os aceleradores de partículas são construídos baseados nela, bem como a tecnologia do GPS na relatividade geral. Já escrevi um pouco sobre isso no AOL (http://educacao.aol.com.br/colunistas/adilson_oliveira/0001.adp)
    O seu comentário sobre a energia nuclear de fato é muito pertinente. Com a possibilidade da produção de energia nuclear, por fusão, poderemos ter um novo modelo, pois os combustíveis fósseis estão causando um custo ambiental muito alto.

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  3. Anônimo9:29 AM

    Caro Adilson
    Obrigado pelo comentário deixado no "DivagarCiência" e parabéns pelo seu blog. Acho que é muito importante começar-mos a tornar a ciência acessivel a todos, pois só com uma sociedade devidamente informada podemos sorrir para o futuro. Na minha modesta opinião, blogs como o seu ou o meu, não vão mudar o mundo, mas podem dar uma ajuda!...

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  4. Adilson.

    Concordo com você, no que respeita ao comentário acerca da Teoria da Relatividade, provavelmente não me fiz entender. Quando me referia à teoria da relatividade queria dizer que primeiro surgiu a teoria e só depois é que apareceram as provas, que é diferente de dizer que ainda não existem provas.

    Um abraço.

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  5. Caro Felix,
    Agora entendi o seu comentário.
    Nesse momento é o que ocorre com as teorias de supercordas, que estão londe de realização experimental. O que não se pode perder de vista é que, ao contrário que a maioria das pessoas pensam, somente com o escrutínio don experimento é que podemos ter a certeza do limite de validade das nossas teorias.
    Um abraço
    Adilson

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  6. Oi Adilson.

    Estive fora e ainda não tive oportunidade de ler seus artigos. Vejo que me preciso de mais tempo do que tenho agora.

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  7. Olá Felix
    Tempo é algo sempre difícil de arrumarmos. Infelizmente somos prisioneiros dele.
    Também gostaria de postar mais, mais é difícil.

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  8. Anônimo1:40 PM

    parabéns... muito bom o blog...valeu

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  9. Anônimo7:12 PM

    Caro Adilson,
    Satisfação em acompanhar seus elucidativos artigos. Aproveito a oportunidade para afirmar que a Teoria da Relatividade é tão óbvia que não precisaria, sequer, ser provada. Aliás, ela já fora implementada no âmbito das ciências humanas com 3 séculos de antecipação, nas proposituras de Locke e Smith.
    Para quem não tiver tempo, ofereço o artigo na vitrine da "Loja do Tempo": www.ALLmirante.blogspot.com
    Aquele abraço.

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